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Narcisismo espiritual | Uma questão de ego

Atualizado: 15 de out. de 2021

Abordar este tema é no mínimo uma ousadia minha. Hoje venho falar da sabotagem espiritual, ou mais concretamente, narcisismo espiritual.

Do que trata este tema? Não pesquisei sobre ele, mas sei-o de antemão o que é por experiência própria na evolução do meu caminho. Não digo do meu caminho espiritual, porque há um engano profundo nesse conceito. O caminho enquanto humanos que somos, é sempre inteiramente espiritual. Somos alma e espírito, portanto não há como o caminho não ser espiritual desde que somos essa matéria densa e subtil como humanos.

Enquadrando a questão do ego, quem procura aprofundar o seu caminho na "espiritualidade", é por norma um caminho para o autoconhecimento. O que pressupõe ser um caminho de ir a dentro de si mesmo. De reconhecer as profundezas do seu ego, a revelar a essência da sua alma. Porém, quem faz o caminho em equilíbrio, faz do ego seu aliado. Não há como o erradicar! Aí está o caminho do meio. Ora se antes estava num extremo dito "mundano", que vivia do exagero sensorial e vivencial, há quem faça esse caminho a dentro e vá ao outro extremo "espiritual", sem (querer) sair dele. O que denota grande apego (sinal que o ego existe e persiste!).

Ora falando sobre este tema, é algo que verdadeiramente ao longos destes anos em que fui desbravando as minhas camadas egóicas, sempre esteve bem presente. O caso é que é um tema que mexe com as minhas vísceras... faz-me confusão! Digo por experiência própria, porque eu mesma, ao longo das minhas descobertas, encontrei falácias mascaradas em muitas terapias energéticas, ditos mestres e orientadores espirituais. Como? Percebi que não era por orientação de outros, muito menos "terapias energéticas" que encontraria o "meu caminho", mas escutando a minha voz interna, e praticando o que a minha alma pedia, sem olhar às influências alheias. Mas foi preciso adentrar bem fundo nas minhas profundezas! Talvez o que me tenha "salvado" fosse a devoção e entrega sincera ao processo de evolução e autoconhecimento, utilizando as "ferramentas" simples que tinha. E as melhores são sempre as mais simples. Comigo funciona o bom senso e discernimento. Quando o pregão não coincide com o hábito, algo não está certo! Porém há quem leve a coisa demasiadamente a sério, no que toca a "escolher" um caminho espiritual. Tão sério que deixa de assumir as suas virtudes humanas. E é aí que quero chegar! No meu entendimento, não há outra espiritualidade senão ser-se humano, na sua qualidade de servir enquanto propósito humano-humanitário. O serviço pode advir dos seus talentos, mas nunca de um ego imposto num pedestal que só pede o "venha a mim o vosso nome", ou "o vosso dinheiro", embrulhado de uma positividade tóxica! Há quem envereda por esse caminho, sem que tenha alguma vez sido exemplo de transcendência, ignorando muitas vezes a sua própria família, despreocupando-se com os assuntos político-sociais, distinguindo pessoas como mundanas, endeusando-se a si mesmos, radicalizando a sua alimentação e educação dos filhos. Aí está o perigo! Radicalizar...

Não era preciso eu ter lido os Yoga Sutras para perceber que lá refere o grande perigo de um buscador. O de assumir os seus poderes psíquicos, como sendo um alter-humano a ser bajulado, uma vaidade enaltecida, sem querer ir mais além desse pedestal. Percebi-o quando eu mesma passei pelo processo! O ir mais além é esse caminho estreito que Jesus Cristo falava. É esse largar de brilhantismo espiritual, e na humildade de ser-se humano-espiritual, saber descer da montanha onde tocou a consciência e vir partilhar no planalto entre os demais, com as mesmas vestes, através do exemplo, e não da evidência e reconhecimento espiritual. Quantos buscam isso, não é verdade? Fogem de um ego social para se refugiar num ego espiritual, maior ainda! Também Jesus Cristo deu "caneladas" a quem se denominava "mestre". Fazer-nos semelhantes aos nossos, é reconhecer a divindade em todos. Falo dele de propósito... Sim, também há aqueles que nesse caminho narcisista, de repente, viram-se contra todas as religiões, neste caso o cristianismo. Para mim é um contrassenso. Porquê? Supostamente, quem está a seguir um caminho de verdade e amor, a realizar essa paz, independentemente da linhagem ou filosofia que adota, nunca, mas nunca vai "condenar ou julgar" qualquer outra religião, porque a entende no misticismo que ela é, e não na superficialidade que ela se apresenta! Aquele que adota essa postura está assumir um caminho de radicalismo, tal como tantos outros extremistas que nada têm a ver com determinada religião, e espalham ódio e violência. Diga-se aqui, que religião não é o que o homem fez ou faz dela, mas sim a mensagem que está inerente nela. Religiosidade é todo e qualquer caminho que assumimos para o encontro do nosso Ser sublime.


Procuro nesta abordagem, apresentar as faces desse diamante referido no evangelho de Jesus aos Essénios, como sendo a verdade mais próxima da verdade. Procurando assumir os vários prismas que compõem a verdade, ainda que eu na verdade nada saiba sobre a verdade! Porém arrisco-me a dizer, será que quem segue este caminho "radicalizado", não está a autossabotar-se, além de sabotar os outros? Será que está consciente? Será que "corre por gosto" ou por interesse? Será que serve ao propósito, ou serve-se do dinheiro que advém? Que poder de influência tem sobre a vida do outro? Todo aquele que não tiver tato, sensibilidade e amorosidade, que usar de exacerbada disciplina e arrogância, que não saiba estar com a sua família, amigos e demais, que não use dos seus direitos civis políticos e sociais, que não exerça o seu dever em consciência ambiental e educacional em equidade e harmonia, adotando um estilo de vida ideológico que não vai de encontro aos princípios basilares do trato do ser humano... peço imensa desculpa, mas precisa repensar o seu caminho! Quantos destes, largariam o que têm, se o seu propósito tivesse de passar por essa prova? A questão está, que quem serve por um propósito maior, humano-espiritual, é exemplo e não influência.


Não posso generalizar, mas pela minha experiência, o risco está onde houver um grande aglomerado de pessoas seguidoras de determinado "professor", "guru", "escola", "terapia", o que for... Há uma necessidade de criar apego nas pessoas, de subserviência, que se traduz nessa pobreza de espírito de quem os procura, causando cegueira, e por sua vez do outro lado, uma obstinação inconsciente, que os faz alimentar dessa espiral ideológica. O risco está na necessidade voraz com que muitas pessoas procuram remediar os seus "males" de corpo e alma. Vejo na história dos Realizados, que seguiram sempre o caminho mais simples, e passo a passo, sem truques de magia. Eu pelo menos, encontro maior sabedoria nos simples, e já levam uma boa dosagem de experiência bem vivida na pele. Nem tudo o que brilha é luz. Nem tudo o que faz alarido é a verdade do caminho. Pelo contrário. Encontrarás luz na cave das tuas profundezas, e o silêncio será a tua verdade.


Usar de discernimento é a resposta! Por mais buscadores sinceros num caminho de humildade e verdade, para a liberdade do ser. A boa notícia é que existem bons professores e orientadores, bons gurus e boas escolas, mas só a prática pessoal levará à tua mudança. Absorve o que aprendeste e voa para a vida. Mais vais aprender!






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